"Do Processo de Harmonização, isto há a saber" prosseguiu o astro azul.
Para começar, escrevemos um acorde em estado fundamental e outro em Iª inversão.
{A silhueta das casas alberga o cansaço. A manhã soletra o desejo demorado.}
Colocamos duas cadências, uma primeira, neste exemplo, picarda, e uma segunda, evitada.
{A silhueta das casas habita a insónia. A manhã soletra.}
Depois colocamos o I do primeiro acorde também no segundo acorde.
{A silhueta das casas uiva a insónia. A sombria manhã murmura.}
De seguida, procuramos formar um encadeamento do tipo II.
{O anoitecer uiva a silhueta das casas. A sombra do monte abafa um murmúrio matinal.}
Horned Wolf
domingo, 12 de setembro de 2010
V. Processo de Harmonização
sábado, 11 de setembro de 2010
IV. Harmonia das Quatro Vozes
Passemos pois às normas para a harmonia a quatro vozes. Uma a do Leão, outra a do Anjo, uma a do Touro e outra a da Serpente. A do Leão, como a do Anjo, é voz superior, a da Serpente, como do Touro, a outra. A insistência numa só delas provoca um efeito forçado e anormal. Na distribuição das notas pelas quatro vozes resulta um maior equilíbrio se existem intervalos mais breves entre as vozes superiores, não ultrapassando as oito notas.
Exemplo :
"O rugido do deserto (leão) bebe o coração do peregrino (anjo). Este, exausto, enterra-se na luz granulada (leão). Nascem rosas ali, onde o sangue da sua alma cadente suporta a areia (anjo). Depois, a ventania cessa o silêncio das vozes múltiplas (serpente), e constroi, estático, o corpo da morte (touro): uma coluna de fogo (leão), o rodopio luxurioso dos defuntos revoltosos (anjo): nada, mas as cearas (touro)."
Importa conseguir uma consistência vertical, para tal, é possível a supressão da 5ª (ficando subentendida) mas nunca da 3ª (que não deve estar nas vozes superiores), e verificar a existência de 3 fundamentais. Assim:
"A criança, gasta, lança dúvidas ao astro."
Na esfera musical, o astro é a fundamental, as dúvidas a 5ª e a criança a 3ª. Mas a criança é sempre leão. Vamos alterar a sentença de forma a obedecer aos nossos requisitos.
"O camponês, restaurado, sente o corpo percorrer campo, astro e fado."
Ou, sem a 5ª, "O camponês, restaurado, é campo, astro e fado."
A verticalidade denota-se não na sensação da altura ou da vertigem, mas no sentimento unitivo. É necessário ainda duplicar uma das notas. No ponto de repouso fica bem duplicar uma das fundamentais, neste caso, poderíamos usar um amplificador para o astro.
"O camponês, restaurado, sente o astro pelo campo, céu e fado."
Horned Wolf
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
III. A Hierarquia dos Acordes
"Sobre a música, o principal a saber é a dança, porque na dança está ser-se a terra. Mas não chegamos ainda a essa etapa. Estamos agora na hierarquia dos acordes. Examinemos esta canção:"
"{Abandona a adoração. A luz, sozinha, deseja a noite.}"
"O gráfico musical da sentença mostra-se:"
"{Abandona, solitária, a luz. O desejo adora a noite.}"
"Em que a solidão (V) é mais estável do que a luz (IV), principalmente devido à irresistível função ascendente em direcção ao abandono (I), coincidente com a ascendente da sensível, que se lê:"
"{A noite adora o desejo, e a luz, sozinha, o abandono.}"
"A solidão (V) é a tonal, ou seja, a forma do restante encadeamento, o que não se verifica com a luz (IV) excepto pela solidão sendo pois ela, em última instância, a definir o grau (a forma)."
"A noite, o desejo, o abandono, todos possuem os contornos da solidão, mas esta solidão só existe no corpo luminoso."
"Há, pois, a cabeça musical desta composição {A luz sozinha, o abandono.} da qual todas as fundamentais necessitam de ficar fora, sendo elas a adoração e a noite: da noite nasce o desejo e a luz, e da adoração nasce o abandono. No caso de - Abandona a adoração - contamos 3 notas. Existe ainda uma dimensão profunda do estudo musical, por exemplo, dentro do acorde, podemos dizer que a solidão (V) está na noite (VII), ou seja, obtemos V7."
"A proximidade da luz (IV) e do desejo (II) reflecte funções semelhantes:
"{Abandona, sozinho, o desejo. A luz adora a noite.}"
"{Sozinho (V), o abandono (I)} é considerada a cadência perfeita e a ascendente da Sensível. A cadência é o momento em que a música atinge um ponto de repouso, e significa cair, que deve coincidir, como nas artes malditas, com a ascendente."
"O abandono (I) é a palavra mais estável. A cadência plagal mostra-se {Luminoso, o abandono}, e é menos forte que a cadência perfeita."
"{Abandona, solitária, a luz. O desejo adora a noite.}, neste caso, a penúltima palavra é uma fundamental, mas não no 1º caso {Abandona a adoração. A luz, sozinha, deseja a noite.}, em que perde estabilidade musical, não deixando de ser conclusiva."
"Existem depois várias formas de cadência. Por exemplo, a Cadência Evitada {Abandona, sozinho, a luz. O desejo.}, ou a Picarda, muito utilizada na música renascentista e que substitui a 3ª Menor do último acorde por uma Maior."
{A noite adora o trono:
A luz desconsiderada, o abandono.
A morte debanda sem retorno:
A luz exilada, o abandono.}
"Começas pois a perceber que cada coisa pode ser toda a coisa, mas quando se dança, tudo isso é carne."
Horned Wolf
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
II. Encadeamentos
"Abandona a adoração", prosseguiu a mulher-astro. "Não serás atraída por estrelas, a luz é apenas sequiosa da noite", e de seguida, avançou.
"Do encadeamento dos acordes, se dois e com três notas, isto será dito (um asterisco será colocado a assinalar cada nota):
{Tipo I -}
"No lusco-fusco das praças (*) reúnem-se os pintores e as prostitutas (*) de vestidos dispendiosos (*). A janela (*) descobre um homem (*) sem rosto nem desprezo, que observa, silente, a ribeira (*) luzente."
"No tipo um, não se _notam_ notas comuns. E as fundamentais intervalam entre a 2ª (praças) e a 7ª (ribeira). Esta a primeira sequência: lusco-fusco, praças, reúnem-se, pintores e prostitutas, vestidos dispendiosos. Esta a sequência segunda: janela, homem, rosto, desprezo, observa, silente, ribeira, luzente."
{Tipo II -}
"Reúnem-se os pintores e as prostitutas no lusco-fusco das praças cancerosas. A janela encobre um homem sem rosto que observa das praças a ilusão."
"Há uma nota comum, as fundamentais intervalam entre a 4ª e a 5ª."
{Tipo III -}
"Mesclam-se os pintores e as prostitutas nas praças do lusco-fusco. A janela traça um pintor sem rosto que desfigura o contorno da praça."
"Há duas notas comuns, as fundamentais intervalam entre a 3ª e a 6ª."
{Tipo IV -}
"Bailam os pintores e as prostitutas de vestidos airosos no lusco-fusco prateado das praças. O lusco-fusco vê uma meretriz sem rosto nem desprezo, que melancólica recebe estas praças."
"Mostram-se três notas comuns, as fundamentais na 8ª em uníssono."
"O máximo de contraste encontra-se no tipo I e o mínimo no tipo IV. O encadeamento mais perfeito, aquele que melhor soluciona as tensões, é o do tipo II, sendo considerado forte, como o tipo I, que é, todavia, menos conclusivo que o tipo II, por falta de elementos semelhantes. O tipo III, como o IV, é fraco, e menos fraco o III que o IV."
Horned Wolf
I. Acordes
As paredes desvaneceram gradualmente e outro holograma tomou o seu lugar. Várias estrelas desordenadas no vácuo davam ser a um planeta de beleza requintada e brilho azul despontado a prata. A mulher voltou-se para esse planeta e disse a Babalith:
"Eis o que haviam feito os sábios até então, e que não são os sábios de mim em diante: fitaram o mundo belo e o seu conhecimento brotou da sua inveja, com isto, procuraram governar."
A mulher olhou pois mais longamente, e foi tomando os contornos, a textura, o peso, a leveza e os gases de cor daquele planeta. Até que se incrustaram um no outro.
"Esta é a sabedoria de mim em diante. Para governar a terra há que ser a terra."
De seguida, o planeta mulher, que era Júpiter, falou a Babalith com as seguintes palavras:
"A tua viagem será uma excursão à nossa linguagem. Nós falamos de modo idêntico a ti, mas a gramática disposta de forma a não admitir mentira. Antes de a estudar, vem o cantar. Pois o cântico é a fundação do mundo dos anjos."
"Exemplo: Há correntes que levam os habitáculos, correntes de tempo como há correntes de mar, e lavram mais ali do que acolá."
"Há a ver nisto que a correnteza é a nota fundamental, a partir da correnteza ergue-se a casa como o mar sobre o abismo (uma 5º), e o tempo como a casa sobre a pedra (uma 3º). A quinta pode, depois, ser perfeita, se em vez de casa disseres seio, aumentada, se em vez de casa disseres labirinto, ou diminuta, se no lugar de casa houver não o atelier e a biblioteca, mas a cama e a poltrona."
"Exemplo: Há correntes de tempo, como há correntes de mar, que despem os seios, e mais neste ardor do que noutro. Ou: Há correntes de tempo, como há correntes de mar, que lavam os labirintos, e ora mais no desespero ora mais na esperança. Ou: Há correntes de tempo, como há correntes de mar, que arrastam as camas para os sonhos esquecidos."
"A 3º pode ser Maior ou Menor. Assim, move-se a eternidade como se move o mar, onde os habitáculos são velas a brilhar. Ou, se em Menor, acaba-se o momento e escoa-se o mar, deixando nos habitáculos, vazios a crepitar."
"A ver depois isto." continuo o planeta "Se a nota fundamental é a mais grave, diz-se {O vagido da correnteza leva o tempo e come os seios} se a mais grave é a 3º estamos numa Iº Inversão e diz-se {A correnteza dos seios que o tempo chove em cinza}; mas, se é a 5º a mais grave, está em c e é 2º Inversão, como se segue {A correnteza escorrida dos seios teceu o tempo}."
"Relacionando a Fundamental com a Grave obtens o Estado do acorde {A correnteza dos seios que o tempo chove em cinza}, em que as cinzas são a correnteza, e relacionando a Fundamental com Tónica descobres que forma tem a cinza, têm a forma de todos os seios."
Horned Wolf