terça-feira, 1 de agosto de 2017

2042.4

Aos dois mil e quarenta e dois anos após Babalith haver adquirido do astro azul a língua mágica que retiraria às mulheres o desconhecimento da fala, decidiu-se por um modo de a ensinar às vulgares. Há alguns anos arrastara uma prostituta velha e bem educada ao País Ninho, onde os insectos e os crustáceos, ausentes do tempo humano, se haviam voltado a agigantar como no Período Jurássico. Colocou depois a sombra dessa mulher a escutar durante muitos anos os sons dos bichos quando falavam sozinhos, com as folhas ou uns entre os outros. Findos os primeiros trezentos anos a mulher voltou, gretada, possuída pela sombra e, face a Babalith, assim falou «Bqd, gl nh... Mn nh -pr t». Com os pássaros e os répteis bastaram cinquenta anos e a sua aluna, provando haver dominado aquela linguagem, pôs-se a dizer «Ff vvv çç zzz, xx jjj rrr! âââââââ». Depois, enviou-a Babalith com as feras e com os bovinos e todos os anos a interrogava. Um dia disse-lhe a acólita, muito vergastada pelo sol e pelo vento «Uau, uía, aiu eu». Haviam-se passado 500 anos ao todo e Babalith sorriu, tomou-se de refeições com ela. Chegada a noite invisual, o total silencio nocturno, proferiu: «aaaaaaa vvvvvvv ddddddd aaaéééêêêiiióóóôôôuuu fffvvv ççzzz xxjjj rrrr bbbppp dddttt gggqqq mmmmmmmmmmmm; nnnnnnnnnnnn» e, certificando-se de que era escutada mas não vista, colocou o capuz negro, estalou e sacudiu as matracas, e prosseguiu com as potências ocultas do bufo do mar à meia-noite, o silvo e o grito prolongado dos pássaros nocturnos «uh uh uh uh uh, b p d r t; zzzzzzz, vvvvvvvvv». A acólita, em pânico, soltou um sopro silente e uma vibração venenosa de serpente, depois principiando a vociferar NNNNNNN consegiu mover-se por via do seu próprio ventre como um símbolo encarnado no movimento dos órgãos vocais. Babalith riu-se «Eneias, a noite desce e nós chorando levamos o tempo. Este é o lugar onde o caminho se divide em dois». Nessa altura, é que soou o ano dois mil e quarenta e dois.