sábado, 5 de junho de 2010

7.



Watching You Sleep, Babalith


Deixando as sondas para trás, Babalith vai deparar-se com o inesperado. Numa câmara dos túneis labirínticos encontra homens verdadeiros, adormecidos e circundados por ecrãs e rádios. Contemplou-os durante um dia. Eram persas, turcos, mas a maior parte sírios. No segundo dia, Babalith arrancou um ao seu sono. Mas como que o homem não sabendo falar a língua das mulheres e a mulher não sabendo falar a língua dos homens, puseram-se a contar tudo o que haviam visto e percorrido com mil gestos, saltos, expressões de espanto, de temor, latidos e gemidos, ou puxando das vestes objectos. Cada movimento contava uma história, por exemplo, a palidez da anca era a Lua. O pescoço as torres nos palácios mais altos. Os belos ombros o exército imperial. Do homem, os pés eram vales verdes, a cintura uma floresta de sátiros bêbedos. Nos gestos um do outro, aperceberam-se de um vasto mundo que ainda não havia sido descoberto. Depois o homem, mostrou-lhe uma caveira coberta de musgo, que entre os dentes apertava uma esmeralda, apontou, insistindo, e voltou ao sono.

Pôs-se por isso Babalith a meditar sobre o novo significado de tudo. E falou assim na sua mente:
“Só o terceiro pode levar a conversa de mim para mim às intensidades, pois todas as profundidades que não sejam intensas são abismos artificiais. É com o nosso medo do terceiro que fugimos a nós mesmas e nos abandonamos à morte morta como cadelas traidoras. É preciso, junto de um amigo, cessar toda a guerra, e encontrar por isso paz dentro de nós. Não lhe resistir, apresentarmo-nos perante ele sem máscara, nuas. Depois nunca mais ninguém nos desprezará, porque o desprezo é a própria máscara.”
E fitando, continuamente, o semblante adormecido perto da caveira, pensou seguidamente:
“Tem sido razão da minha angústia que a Mulher durma, como o homem dormiu e depois morreu. Achei que a despertaria com discurso e agitação. Hoje, esse sono é a razão da minha alegria e do meu furor. Estimulada pelo amor, olhando este homem no seu sono, na ondulação do seu peito, é a sua alma que eu vejo, ao vivo, sem véu. Reconheço nisto a chave para despertar. E sabendo ver, com olhos despertos pelo desejo, o outro a dormir, e sendo igualmente vista como aquela que dorme, não seremos mais mulheres e máquinas, mas almas vivas e arrancadas à sua hibernação, comunicando e celebrando os mundos bailantes como numa dança de pétalas ao vento.”

Horned Wolf

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