terça-feira, 1 de junho de 2010

5.


Babalith Seen from the Blind Woman, Babalith


Os ringues imobilizaram-se. As arenas do amor paralisaram. De um terraço chegou-se à frente uma negra com um puma negro atrelado. Todas fitavam Babalith em silêncio, e com um arrepio, reparou a mesma numa cegueira geral, ainda que as máquinas continuassem a desenhar tatuagens na pele nua das mulheres que as não podiam ver. A negra gritou e apontou a vara em direcção a Babalith. “Há uma cega entre nós” As outras urraram em acordo. Os robôs abandonaram Babalith. “É uma louca que vem dos pináculos e, ou enlouqueceu por passar muito tempo nos pináculos, ou a sua loucura leva-a a falar por cima de nós.” Babalith apertou a pelugem do leão branco. “Vejam,” continuo, invisual, a negra, “esta mulher não é nova, no tempo dos homens, chamavam-na de Estado. O que ela chama de amor é a frieza apagada da máquina: ela diz, «eu sou a Mulher», e tem por mulher um código que é todas as mulheres. Nenhuma mulher é como qualquer outra mulher. Esta mulher não está certa, há ainda uma coisa que devemos odiar com a força das entranhas, e essa coisa é o Estado, essa coisa é Babalith. Aprende a falar a língua das pequenas para lhes poder depois mentir. Destruímos os nossos ídolos e ela vem-se apresentar como o novo ídolo.
“Vede, ela fala do que é bom e do que é mau, e quer-nos umas boas e outras más, para que os bons e os maus possam morrer dentro do Estado. É preciso matar ainda a sua cultura, pois o conhecimento vem da ignorância. Não, nós não procuramos poder, tal como não procuramos o ar que respiramos. Ela quer ser o ídolo e nós as idólatras, mas eu digo-vos: ainda não aprendeu o macaco a adorar ídolos, e é por isso são.
“Afastai-vos, ó domadora de albinas feras, nós vestimos o negro, e nada temos contigo. Falais de sacrifícios a um abismo, mas o macaco não pensa em sacrifícios. É, por isso, são. Não precisamos da tua língua, o silêncio do deserto ensinou-nos tudo aquilo de que necessitávamos."


Horned Wolf

Sem comentários:

Enviar um comentário