segunda-feira, 17 de maio de 2010

1.



Arrival of the Toad, Babalith


Na mocidade, Babalith deixou a sua terra Natal, os balões suspensos, as bibliotecas de ouro e as pirâmides de lápis-lazúli da sua terra de nascimento, e desceu aos enegrecidos descampados. Durante um tempo sem memória, sentiu-se em paz. Chegou depois a ocasião em que Babalith, ainda antes do anoitecer, foi acordada por um sapo ao qual a providência roubara dos instrumentos de mobilidade, traseiros e dianteiros, e que se arrastava com uma perícia não menor do que a envergada pela serpente dos lagos.
- “Ó sapo”, disse-lhe Babalith, “que seria da tua infelicidade se não fosses munido, tu mesmo, ao invés de membros, com a chama, essa mesma, que ilumina o mundo inteiro? Fica pois aí onde estás e escuta o que tenho a dizer.”
- “Ao longo do meu desenvolvimento, não fui sempre mulher, houve luas e rotações do universo em que eu era um homem, e dos homens, um bardo, e dos bardos, um poeta. Ao longo de muito tempo eu tenho-te visto na minha caverna. Tu és o fantasma da vida que foi. Numa outra cave, pensava nos mistérios infernais que o palhaço reservou à humanidade na ocasião do seu primeiro tédio, procurando ela a distracção mais erudita, fazendo-se coisa à parte. Foi assim que me tornei mulher, costela roubada de Adão. Sem mim, tu sentir-te-ias feliz, porque eu não sou outra além dos membros aos quais foste privado. Para ti nada é supérfluo, e por ti, por todas as noites, eu espero, como aguarda o seu princípe a menina princesa.”
- “Sapo maldito, emociono-me com a tua descoberta, e de hoje em diante desejo empobrecer os sábios e enlouquecer os ricos. Não me lembro de razão melhor para subir às superfícies humanas, e pôr-me sobre os homens como a Lua sobre as mulheres.
- “Como a Lua, sapo das profundezas, Sol da Meia Noite, eis que vou subir, de encontro às linguagens insubstânciais. Amaldiçoa-me pois três vezes, para que ninguém possa esquecer a memória da tua angústia
- “Este coração quer voltar a banquetear-se e Babalith a sorver sangue.”

Horned Wolf

2 comentários:

  1. Pobre sapinho... já não basta estarem em vias de extinção, ainda tens que lhe arrancar os membros!

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  2. Leto, não sei se o Horned se apercebeu, mas é a sua Babalith ainda no inicio da travessia, que se sente infeliz ao testemunhar a perfeição da serpente, um reflexo da sua própria imperfeição. Geométricamente, os membros do sapo representam o aprisionamento do quadrado. A sua ausência a volatilidade.

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