terça-feira, 25 de maio de 2010

2.


Babalith Meets the Lizzard King, Babalith


Na margem do rio da Porca Canibal, Babalith deitou-se para adormecer. Deitando-se para adormecer, sonhou que estava acordada. Fitava a fábrica da Porca Canibal e recordava-se de como fora, antes de Babalith se cobrir de cabelos brancos da cor do Sol ou no tom da areia fina do deserto. Algo era feliz, nestes seus últimos dias, já não se lia a cidade como a uma página escrita, com todos os seus símbolos, onde as pessoas os edifícios as ruas as cores as nuvens e as estátuas e as fontes e até as madrugadas significam símbolos. Agora, as máquinas eram só maquinaria, como a pedra não deixa de ser pedra. Encontrava-se numa idade modesta, honesta. Três duendes criança aproximavam-se, com o sapo desmembrado capturado e arrastado numa rede. Babalith perseguiu-os e foi de encontro ao Rei Lagarto. O Rei Lagarto nada dizendo, chegou-se à sua frente uma réplica do mesmo, apontou para o vulcão a Sul e falou na seguinte medida:
“Vigia! Vigiar é a última função do ser – essa é a função da máquina. Todos os que dormem devem inevitavelmente morrer para sempre.”
Depois, o Rei Lagarto estendeu-lhe uma trompa, e a máquina ofereceu-a por sua vez a Babalith. Uma trompa para despertar todo o ser dormente e violentar o sono com a agitação tenebrosa dos pesadelos. Desmaterializando a sua réplica continuo depois o Rei Lagarto.
“Vigiar, menina, não é uma tarefa fácil. É preciso primeiro aprender a sonhar de olhos abertos. Quem sobrevive ao sono, sobrevive à morte. A quem ama o cansaço nunca faltará bebericagem, e jamais necessitará de reconciliação. Para a regalia dos sábios que te precederam, a virtude eram os sonhos sem sono. Tu, porém, não possuis virtude que seja tua, e só por isso nada possuis de comum com ninguém: a tua existência é uma boca que devora toda a existência para que a preserve. E se tu te partilhas com a multidão a multidão dispersa para ser cada um, um Rei do Mundo. O teu amor destrói o bem, a plenitude, o querer, a lei, a necessidade, o princípio, os paraísos, a terra, a inteligência e o sentido. Por isso eu te acaricio e por isso aninhei dentro de ti os meus ovos azuis: nos teus movimentos deverão despertar os demónios e os anjos, os cães e as aves, leites e venenos, e destas e de outras coisas encherás os homens, para que nenhum vá leve o suficiente que atravesse a ponte que te trespassa. Depois que afundem, todas as virtudes serão uma apenas: virá no homem a inveja do anjo do mal, para que possa elevar-se acima da inveja do animal e do esconderijo da máquina.”

Com isto, acordou Babalith, e pensando que dormia, sibilou “eis o meu inimigo”.

Horned Wolf

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