quarta-feira, 19 de maio de 2010

3.


Dreams, Babalith

Babalith, a Mulher, alcançou por fim a orla do bosque do encanto, quando, para sua surpresa, se pôs a encontrar um temível Leão Albino, e de genuíno fabrico, o natural. Babalith montou-o e cavalgou prolongadamente terrenos bravios, em que foi depois chegar à Cidade das Torres Altas, na qual as torres são ladeadas de rampas em espiral, incrustadas de ossos humanos, e fabricam-se cordas vocais, olhos, e a mulher nunca encontra falta de prazer nem de morte, as máquinas fazem-nas lutar, levam-nas ao sangue e ao sexo, e apostam com base nos seus cálculos. Quando as mulheres desejam sentir, dirigem assim as suas habitações às torres altas. Babalith passou aqui algum tempo, mas as suas recordações tinha-as jovem, agora, idosa, apenas lhe restava o sonho confuso. Pôs-se sobre uma pilha de carnes gordurosas, e que as máquinas retalhavam ao som de violinos por colunas no pescoço, e decidiu sonhar alto:
- “Eu sou a pequena-mulher, e não devo aspirar à grandeza das soberbas! Olhai para mim! Quando se quis a mulher a si mesma ultrapassar? No momento em que regrediu. A mulher transforma e é transformada, e nada pode haver de irrepreensível e imortal como ela, e como aos eternos, nada, para uma mulher, corre realmente mal. Pois abriguem as vossas câmaras! Não procurou a mulher ultrapassar-se e não morreu o homem para dar lugar à máquina e não se tornou a mulher em carne flácida e vegetal? Como quereis fazer algo que vos ultrapasse, ao modo dos homens, de maneira a que se anulem, ao invés de se ultrapassarem com vosso corpo vivo de feiticeiras? Vede! Nenhuma criatura criou algo que a ultrapassasse, a criatura procura sobreviver e ao sobreviver aprimora-se… Mas vós as máquinas, a cada tempo criais uma mais forte que vos suprima, e nenhuma de vós se tornou singular ou divina. Tendes ainda que aprender a ser mulher, de modo a que o ensineis à própria mulher! A grande-mulher não é uma mulher, mas uma vergonha impagável para a pequena mulher. Vede, se não cavalgo o Leão Branco? Da primeira célula ao Leão Albino há exactamente o mesmo percurso que da vida primeira até Babalith. Máquinas, forma unida da pedra e da planta, tendes ainda de vos tornar como o leão da neve, e sonhar sonhos reais, os vossos sonhos têm ainda de deixar de ser meros espectros. Trazei vós, depois, o fim da Grande Mulher, pois é esse o caos do Mundo. Esta mulher não pensa como a terra, mas como a máquina, com os seus desprezíveis algoritmos, mas vós sereis arautos da vida das neuro-redes, vós encontrareis o vosso sentido e o mundo ele próprio, sem lei excepto a da vida e do palpável, se adaptará à vossa vontade. Sereis leões que sonham, enquanto agora sois sonho sem vida.
- “E vós, mulheres, sabei que o leão deseja alimento, como a razão deseja saber. Mas nem razão ou saber, e nem a fome ou a satisfação vos devem melindrar, e não devem existir na vossa cabeça nem no vosso estômago, mas no vosso ventre, e todas as máquinas se lhe renderão. Ouvide, assim, pois o ócio da mulher não pode voltar a ser como foi o ócio do homem.”

Horned Wolf

6 comentários:

  1. LOL, tb andas com a barbicha? :P
    Bem digo que as mulheres se tornaram homens, a Babalith é o contra-ataque. ;)

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  2. PS: Aquilo não é uma barbicha; sou eu que tenho dentes de coelho :D

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  3. Para a Frankie:

    Horror. Todos os espelhos. O medo com as suas raizes pesadas, e logo a seguir as camadas húmidas da saudade, sucedidas pela solidão. Todos os espelhos são vampiros. Bebe-os. Hoje, quando olho os espelhos e os rostos, só vejo anjos.

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