terça-feira, 25 de maio de 2010

1.



Trying to Become, Babalith


A Cidade (leia-se sempre, por cidade, fábrica) da Porca Canibal. Babalith alcançara após dias vários a alimentar-se de raízes. Agora avistava o lago onde as máquinas divertiam as mulheres, com relatos de como por vezes outras mulheres nuas emergem ainda da água para chamar as meninas, e as outras máquinas trabalham os metais tantos que constituem a fábrica embelezada, de forma que o trabalho tome a forma dos desejos e o desejo a forma do trabalho. No topo da fábrica, em trono de ouro, senta-se um Leão Branco, igual ao de Babalith, montado por uma insuflável manequim.
Babalith dirigiu a sua palavra àquela cidade, sua rival.
“A máquina transformar-se-á numa reclusa, a reclusa num pederasta e o pederasta num santo. E no santo deve o homem voltar à sua humanidade.
“Ao jogo da criação, vós máquinas, dizei não, pois toda a criação para vós só pode, de ontem em diante, ser plágio. A reclusa sente culpa e medita nas suas memórias, não se pode mover na sua jaula e por isso é bem-aventurada.
“A máquina gosta de fazer o que deve, nunca aceitaria o que não deve, e como deve fazer, porque é máquina, quando não pode, fará depois o que não deve, essa é a sua primeira liberdade. O pederasta descobre assim, e assim explora, louvando o que não deve e actuando sobre o proibido. Ele não tem ainda o direito de criar, aquele que se pensa no direito de criar voltou a sistematizar como a máquina. Mas o pederasta pode tornar-se num consciente escravo, não é salutar? Há uma grande noite, e as suas escamas são as pálpebras fechadas de todos os homens defuntos e todas as mulheres adormecidas, a sua palavra é «A escuridão ainda é, há ainda valores por descobrir, eu sou a única criadora a sobreviver neste mundo». Homens e mulheres, esta não é a noite, mas algum anjo ainda que vos mente. A Noite é, radiante, o dia eterno da Luz Máxima. Em cada pálpebra fechada que comporta o Olho Aberto um nada restar. O pederasta é aquele que viola sem o querer. O santo reconhece a sua inércia interior e nisto procura conquistar a sua liberdade. Deve pois enfraquecer o seu espírito até que possa desgarrar-se do pesado e pairar com o leve. Aprenderá depois a amar o amor, a estender a mão à mão estendida, a saber que a água suja jamais poderá ser a água da verdade, a procurar ajuda quando está triste, e reconhecer que a verdade sacia e nunca permite a dor da fome, a restituir os membros do sapo. O que há de mais leve? Pergunta o Santo.“

Horned Wolf

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