quarta-feira, 19 de maio de 2010

4.



The Human Abyss, Babalith


E como que as máquinas e as mulheres, em histérica monotonia, não escutando, Babalith fitou melhor as torres à procura de uma recordação perdida nos mares das correntes da memória. Nas torres, não havia portas para o interior, mas elevadores, em número de sete e no meio de todas as torres um grande fosso seco, onde existe um quadro eléctrico que alimenta os chips e dispositivos outros dos edifícios circundantes. Sem existirem casas, existiam cerca de setecentas chaminés. Depois, Babalith recordou-se. Chegara ali muito jovem, de noite, muitas baratas corriam as ruas e eliminavam os restos abandonados do mercado, mas as mulheres permaneciam nas mais belas condições, de suculento e despido aspecto, apesar de apáticas e sem medo. Três máquinas tocavam violino na zona da jugular, por toda a parte giravam néones e ondulavam roldanas. Desde ai, esmagando os insectos, esquecera o passar dos anos e recorrera à limpidez dos desertos.
Desobstruindo-se da memória, voltou a investir:
- “A mulher não deve atravessar e a mulher não deve pensar na corda, nem em escadas ou em teleféricos. A mulher deve ser abismo, sem estágio e em todos os estágios. A mulher deve ser aquela que engole toda a ponte, e o homem deverá ser corvo em voo. Que nenhuma arrisque a vida, e seja este um abismo sem margem. Não haja desejo, desprezo, ou adoração, porque as que a isto obedecerem serão como abismos. E que nenhuma queira conhecer, porque esta não vai conhecer se não um reflexo. Porque a mulher se encontra atrás das estrelas e tem de agir como quem se encontra atrás das estrelas para voltar à terra. Então, que ame acima de tudo o seu vicio, porque fazê-lo será um mapa da virtude. E devereis esquecer toda a palavra de ouro, toda a palavra humana, porque lembra-la vos tornou semelhantes às máquinas. E que a mulher condene todos aqueles que estão para vir e todos aqueles que já passaram, porque só o abismo do presente preserva, e tudo o que se preserva se aprimora. E só depois deve a mulher vivificar o homem, porque o homem é o seu destino. E que a mulher jamais resista à adversidade mas se identifique com ela, porque nenhuma espada, por mais primordial, fere o primeiro oceano. Só assim ficará na posse da sua alma e se recordará de si mesma. E que ela não tenha nem espírito nem cabeça, nem coração nem entranhas, mas apenas perdição. E que seja cada mulher como uma grande sombra a anunciar a Noite Eterna, porque daí evocará o Grande Raio.”

Horned Wolf

3 comentários:

  1. forte e gutural como babel evoca mas gentil como o prórpio abismo,..

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  2. Não acredites em tudo o que vês, a escuridão é a luz dos abismos. Todos os perseguidos se instalam ali para criar a sua própria cultura e desenvolverem os seus sentidos.

    Não acredites na espiritualidade dos ocos e dos que procuram apagar-se. Estes que desesperam perante os novos tempos. Estas putas do apocalipse. O trabalho do Horned Wolf é aponta-las.

    Eu sou mais antiga que o futuro.

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  3. Forte, gutural e gentil: esta linguagem de animais.

    O que é verdade para um animal só pode ser mentira para um Homem. E não é a luz que o ensina. A luz nada ensina de verdadeiro.

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